Três ensaios sobre a teoria da sexualidade
1. AS ABERRAÇÕES SEXUAIS
O ser humano tem desejos sexuais ou necessidades sexuais?
Qual o nome dessa pulsão? Libido? Tesão? Em alemão, “lust” [prazer, desejo].
· Qual a natureza e quais as características dessa pulsão?
o Ela tem um objeto (aquilo que nos desperta a libido)
o Ela tem uma meta (à qual ação a pulsão sexual nos impele?)
1.1 – Desvios no tocante ao objeto sexual
Como explicar a atração homossexual? (inversão)
A) A INVERSÃO
O comportamento dos invertidos - Absolutamente invertidos, anfígenos (hermafroditas psicossexuais) ou ocasionais (de acordo com as condições externas). Este último tipo geralmente surgem diante da inacessibilidade do objeto sexual normal ou por imitação. Alguns invertidos aceitam a inversão com naturalidade, outros se rebelam contra ela. Para algumas pessoas a inversão é permanente, para outras é apenas uma etapa no caminho da normalidade. Pode acontecer em qualquer momento da vida. Em muitos casos, a inversão acontece quando a pessoa teve uma experiencia dolorosa com o objeto sexual normal.
Concepção da inversão – Não se trata de uma “degeneração nervosa” porque, afinal, não há desvios sérios da norma, não afeta as capacidades de funcionamento do sujeito, era frequente tanto em povos antigos importantes e evoluídos culturalmente quanto em tribos primitivas.
O caráter inato – A inversão é inata ou adquirida? Em muitos casos a inversão é consequência de uma impressão de natureza sexual bem cedo na vida. Em outros casos é possível observar influências propiciadoras ou inibidoras (convívio apenas com pessoas do mesmo sexo, vida em comum na guerra ou prisões, perigo das relações heterossexuais, celibato, fraqueza sexual..). Nota-se que a inversão pode ser eliminada por sugestão hipnótica. Por isso, é difícil defender a ideia de que a inversão é inata. Em qualquer análise sempre vamos encontrar uma vivência da primeira infância que determinou o direcionamento da libido. Da mesma forma, circunstâncias semelhantes podem ter desfechos oposto. Sendo assim, é insuficiente pensar apenas nas categorias inato ou adquirido.
Explicação da inversão – Será que já nascemos inclinados a deseja um objeto sexual específico? De fato, não podemos negar as influências acidentais ao longo da vida.
O recurso à bissexualidade – Biologicamente existe hermafroditismo (em maior ou menor grau). Porque não haveria o mesmo fenômeno psicologicamente? Assim, podemos conceber “uma predisposição originalmente bissexual, que no curso do desenvolvimento se transforma em monossexualidade, com alguns resíduos do sexo atrofiado.” Conclui-se que é preciso considerar, com base na configuração anatômica, uma predisposição sexual na inversão. Ela afeta a pulsão sexual em seu desenvolvimento.
O objeto sexual dos invertidos – Grande parte dos invertidos masculinos conserva o caráter da masculinidade e procuram prostitutos que se oferecem imitando mulheres. Entre os gregos, não era o caráter masculino do garoto, mas sua semelhança com as mulheres (timidez, reserva, necessidade de instrução e ajuda), que acendiam o amor dos homens. Tão logo o menino se tornava um homem, ele passava a desejar meninos como um dia foi desejado. “Assim, o objeto sexual não é o mesmo sexo, mas a união de características de ambos os sexos, como que o compromisso entre um impulso que anseia pelo homem e um que anseia pela mulher, mantida a condição da masculinidade do corpo (dos genitais), o reflexo da própria natureza bissexual”
Em nota, Freud acrescenta que “os futuros invertidos passam, nos primeiros anos da infância, por uma fase de intensa, mas breve fixação na mulher, e, após superá-la, identificam-se com a mulher e tomam a si próprios como objeto sexual (...) partindo do narcisismo, buscam homens jovens e semelhantes a si mesmos, que querem amar assim como a mãe os amou”. Além disso, a inversão pode ser produto de um deslocamento da excitação suscitada por uma mulher para um objeto masculino, de forma a repetir o mecanismo do surgimento da inversão (o compulsivo anseio pelo homem determinado pela incessante fuga da mulher). Está claro que a atitude original dispõe de objetos masculinos e femininos, mas decorrente de restrições, tanto o caráter normal quanto o invertido se cristalizam. Ambos precisariam ser explicados.
“Nos tipos invertidos sempre se constata o predomínio de constituições arcaicas e mecanismos psíquicos primitivos. A vigência de escolha narcísica de objeto e a manutenção do significado erótico da zona anal aparecem como suas características essenciais (...). Entre as influencias acidentais na escolha de objeto, achamos digna de nota a frustração (o amedrontamento sexual precoce) e também observamos que a presença dos dois genitores tem papel importante. Não é raro a ausência de um pai forte na infância favorecer a inversão”.
Freud também aprova a distinção entre homoerotismo no sujeito (que se sente e se comporta como mulher) e no objeto (que apenas troca o objeto feminino por um do mesmo sexo).
Meta sexual dos invertidos – Não pode ser considerado invertido aquele que opta por sexo anal, oral ou a masturbação.
Conclusão – Precisamos considerar que a pulsão e objeto não são tão soldados como pensávamos ser. “É provável que a pulsão sexual seja, de início, independente de seu objeto, e talvez não deva sequer sua origem aos atrativos deste”.
B) PESSOAS SEXUALMENTE IMATURAS E ANIMAIS COMO OBJETOS SEXUAIS:
Estes casos são chocantes, aberrantes e aversivos. Geralmente acontece com pessoas medrosas e impotentes que buscam substitutos. O que é impressionante é a tamanha variação de objetos admitida pela pulsão sexual. Percebe-se que os impulsos da vida sexual são os menos controlados pelas atividades psíquicas superiores. “Quem é mentalmente anormal em algum outro aspecto, de uma perspectiva social ou ética, também costuma sê-lo na vida sexual (...) mas muitos são anormais na vida sexual e em todos os outros pontos estão conforme à média...” O ponto fraco permanece a sexualidade.
1.2 – Desvios relativos à meta sexual
Considera-se a menta sexual normal a união dos genitais no ato denominado de copulação, que leva à resolução da tensão sexual e temporário arrefecimento da pulsão (assim como a fome é satisfeita quando comemos). Olhar, tocar, beijar, são atividades intermediárias que aumentam a excitação e são acompanhadas de prazer. Assim, pode-se considerar perversão o uso de extensões anatômicas das áreas do corpo para a união sexual ou a permanência em atividades intermediárias com o objeto.
A) EXTENSÕES ANATÔMICAS
Superestimação do objeto sexual – valorização psíquica do objeto. Extensão dos genitais para abranger todas as sensações que vêm do objeto. Fraqueza de julgamento. Submissão. Autoridade. Amor.
Utilização sexual da mucosa dos lábios e boca – Perversão, exceto quando é boca-boca. Sensação de nojo. Pq nojo em usar a escova de dentes do outro, afinal? Nojo pode ser superado pela libido. O nojo limita a meta sexual. O nojo é característico nas mulheres histéricas.
Utilização sexual do orifício anal – o nojo marca essa meta como perversão. Mulheres não tem nojo do membro masculino usado pra mijar? A masturbação recíproca é a meta sexual que mais ocorre na relação entre os invertidos.
A importância de outros locais do corpo – A pulsão sexual quer apoderar-se do objeto e todas as direções. Especialmente boca e ânus.
Substituto inapropriado do objeto sexual (fetichismo) – Caso em que o objeto sexual normal é substituído por outro que guarda relação com ele, mas é totalmente inapropriado para servir à meta sexual normal. Esse fenômeno depende do fator superestimação sexual, ligado a um abandono da meta sexual. “O substituto do objeto sexual é uma parte do corpo geralmente pouco apropriada para fins sexuais, ou um objeto inanimado que se acha em relação evidente com a pessoa sexual (peças de vestuário). O objeto é superestimado de forma que extravasa para tudo que é associado a ele. Em certo grau, é o que acontece no amor normal. O objeto se torna uma precondição para a satisfação sexual. Há uma diminuição no empenho pela meta sexual normal. A patologia consiste na fixação do fetiche como substituto definitivo da pessoa. O fetiche é construído a partir de uma impressão sexual geralmente recebida na infância. “sempre retornamos a nossos primeiros amores”. O fetiche pode ser produto de uma ligação simbólica de pensamentos inconscientes. Esse simbolismo é dependente das vivências sexuais da infância. A pantufa pode simbolizar o genital feminino, o sapato da mulher pode simbolizar o seu pênis. O recalque das pulões de cheirar e olhar estão relacionados com a escolha do fetiche. Ele se formou como uma lembrança encobridora. Para o homem selvagem, o fetiche encarna o seu deus.
B) FIXAÇÕES DE METAS SEXUAIS PROVISÓRIAS
O surgimento de novos objetivos – “Todas as condições externas e internas que dificultam ou adiam o alcance da meta sexual normal favorecem a tendência a permanecer nos atos preparatórios e a partir deles criar novas metas sexuais, que podem assumir o lugar daquela normal.”
Tocar e olhar – O toque é indispensável para o ato sexual. A visão deriva do toque. Ela desperta a excitação. Quanto mais belo o objeto, mais atrativo. A civilização aprendeu a cobrir o corpo, e a curiosidade precisou ser desviada (sublimada) para o âmbito artístico. O prazer de olhar se torna perversão quando se limita exclusivamente aos genitais, quando está ligado à superação do nojo (voyerismo), e quando reprime a meta sexual normal (exibicionistas, que mostram para ver, ativo-passivo). O pudor é a força moral que se opõe ao olhar. O nojo se opõe ao toque.
Sadismo e masoquismo – Formas ativas e passivas de ter prazer com a dor, humilhação, maus tratos e submissão. A própria sexualidade apresenta naturalmente elementos de agressividade e subjugação para superar as resistências do objeto. O sadismo se configura quando alguns desses elementos se tornam independentes, exagerados e deslocados, de forma que a satisfação sexual dependa deles. O masoquismo pode ser apenas uma transformação do sadismo, um prosseguimento dele, resultado do deslocamento do próprio sujeito para a posição de objeto sexual. Em nota Freud reconhece a existência de um masoquismo primário, erógeno, que, a partir dele, desenvolvem-se duas outras: o masoquismo feminino e o moral. Tambem o sadismo pode ser deslocado para própria pessoa quando ele não encontra objetos no mundo externo para ser descarregado. A análise de casos de masoquismo costuma encontrar fatores que exacerbam e fixam a atitude sexual passiva (complexo de castração, sentimento de culpa). Dor, pudor e nojo, como formas de resistência à libido, podem se alinhar. Crueldade e pulsão sexual estão sempre relacionados. O elemento agressivo da libido pode ser um vestígio de apetites canibalescos. As formas ativas e passivas são encontradas regularmente na mesma pessoa.
1.3 – Observações gerais sobre as perversões
Variação e doença: Inversão é doença? Não. Seus componentes existem na vida sexual das pessoas sãs. Inversão e normalidade co-existem. Não são mutuamente excludentes. Certas perversões se distanciam tanto do normal, superam facilmente os limiares do nojo, vergonha, horror e dor, que se tornam evidentemente patológicas.
“Na maioria dos casos, o caráter patológico da perversão não se acha no conteúdo da nova meta sexual, mas em sua relação com o normal. Se a perversão não surge ao lado do que é normal (meta sexual e objeto), quando as circunstâncias favoráveis promovem e desfavoráveis impedem o normal; se, ao invés disso, ela reprime e toma o lugar do normal em todas as circunstancias (exclusividade e fixação) por parte da perversão, consideramos legítimo vê-la como sintoma patológico.”
A participação psíquica nas perversões: Quanto mais abominável a perversão, maior a participação psíquica na transformação da pulsão. A onipotência do amor é maior nos casos mais aberrantes. Íntima ligação entre o que é mais alto e o que é mais baixo.
Dois resultados: Pulsões sexuais enfrentam resistências (vergonha e nojo). Ocorre uma limitação da pulsão dentro das margens da normalidade. Quando as barreiras e resistência são levantadas muito cedo ou com muita força, são elas que apontam para a pulsão a direção do seu desenvolvimento. É provável que a pulsão sexual seja composta de vários elementos, que se separam nos casos de perversão.
1.4 – A pulsão sexual nos neuróticos
A psicanálise: Os sintomas dos pacientes psiconeuróticos (histeria, neurose obsessiva, dementia praecox, e paranóia) assentam-se em forças pulsionais sexuais. Os sintomas são a atividade sexual dos doentes. Eles são o substituto de uma serie de processos psíquicos, tendências, aspirações e desejos investidos de afeto, que um processo psíquico especial (recalque) privou do acesso à resolução. “Portanto, essas formações mentais, retidas no estado de inconsciência, buscam uma expressão adequada de seu valor afetivo, uma descarga, e a encontram na histeria, mediante o processo da conversão, em fenômenos somáticos – os sintomas histéricos.” (“os sintomas representam um substituto para strebungen que extraem sua força da fonte da pulsão sexual). O tratamento psicanalítico visa transformar esses sintomas em ideias investidas de afetos, conscientes, na descoberta de suas origens.
Resultados da psicanálise: tomamos o caráter histérico como exemplo de neurose. Ele denota um recalque que vai além do normal. As resistência ficam mais fortes (vergonha, nojo e moral). O problema da sexualidade passa ao largo da consciência. A ignorância desse campo se reflete em uma certa ingenuidade. Os sintomas histéricos surgem do choque entre as elevadas forças da pulsão sexual contra as barreiras de rejeição impostas a ela.
Neurose e perversão: A sexualidade vai além das pulsões “normais”. Os sintomas neuróticos se formam à custa da sexualidade anormal (rejeitada), de impulsos perversos (invertidos). “A neurose é o negativo da perversão”. As fantasias conscientes dos perversos, temores paranoicos e fantasias inconsciente dos histéricos coincidem. Extensões anatômicas bucais, anais e genitais são fatores tipicamente formadores de sintomas neuróticos. As pulsões parciais (ver e tocar) como pares de opostos ativos e passivos (voyerismo, exibicionismo; sadismo e masoquismo) portam novas metas sexuais. Justamente mediante essa ligação entre libido e crueldade que sucede a transformação de amor em ódio. Cada perversão ativa é acompanhada de sua contraparte passiva.
1.5 – Pulsões parciais e zonas erógenas
Estímulo “é produzido por excitações isoladas oriundas de fora”. Pulsão “é o representante psíquico de uma fonte endossomática de estímulos que não para de fluir”. Ela é um dos conceitos na demarcação entre o psíquico e o físico. Pulsões não possuem qualidades nenhuma em si, são apenas medida da exigência de trabalho feito à psique. Elas se diferenciam pelas suas fontes (excitação de um órgão) e suas metas (remoção dessa excitação). Os órgãos do corpo produzem dois tipos de excitações: sexuais (zonas erógenas) e ???.
Podemos ver o papel de uma zona erógena, por exemplo, nas perversões que conferem significação sexual ao interior da boca e ao orifício anal. Partes do corpo se comportam como se pertencessem aos órgãos sexuais. Essas partes passam a emitir sensações, medidas de trabalho, pulsões, como uma ereção. Na histeria, por exemplo, a formação de sintomas acontece em regiões do aparelho psíquico mais distantes dos centros que governam o corpo. Na neurose obsessiva é mais comum haver a criação de novas metas, aparentemente independente das zonas erógenas. Para os exibicionistas e voyeristas, o olho é a zona erógena. Para o sádico e o masoquistas, é a pele que assume esse papel.
1.6 - Explicação da aparente predominância da sexualidade perversa nas psiconeuroses
Os psiconeuróticos se assemelham aos perversos no comportamento sexual. Na maioria dos psiconeuróticos a enfermidade surge apenas depois da puberdade, sob a exigência de uma vida sexual normal; ou depois, quando é frustrada a satisfação por vias normais. O mecanismo é o mesmo: a libido extravasa por vias colaterais. Fatores da perversão e da psiconeurose: internos (sexualidade e recalque) e externos (liberdade, disponibilidade, perigos reais, etc). Qual será a força inata da perversão de alguém? “A neurose sempre produz os maiores efeitos quando a constituição e as vivências atuam conjuntamente na mesma direção”.
1.7 – Indicações do infantilismo da sexualidade
Como os impulsos perversos são formadores de sintomas psiconeuróticos, a perversão é muito mais comum do que imaginávamos. A vida sexual normal está entre a perversão desenfreada e o recalque extremo.
2. A SEXUALIDADE INFANTIL
Negligência do fator infantil: Faltam estudos sobre a sexualidade infantil.
Amnésia infantil: Trata-se do esquecimento dos primeiros anos da infância (até os 7 ou 8 anos). Apesar de esquecidos, eles deixaram impressões determinantes para todo o desenvolvimento posterior. Assim como o esquecimento neurótico, a amnésia infantil é produto da ação do recalque. “A amnésia histérica, que está a serviço do recalque, pode ser explicada somente pelo fato de o indivíduo já possuir um acervo de traços mnemônicos que estão subtraídos à disponibilidade consciente e que agora, por um vínculo associativo, apoderam-se daquilo sobre o qual atuam, a partir da consciência, as forças repulsoras do recalque. Sem amnésia infantil, pode-se dizer, não haveria amnésia histérica.”A amnésia infantil esconde os primórdios da vida sexual. Por causa dela a sexualidade infantil não foi mais estudada e pesquisada.
2.1 O período de latência sexual da infância
“O recém-nascido traz consigo os germens de impulsos sexuais, que continuam a se desenvolver por algum tempo, mas depois sucumbem a uma progressiva supressão, que pode ser ela mesma interrompida por verdadeiros acessos de desenvolvimento sexual e também detida por peculiaridades individuais.”
“...a vida sexual das crianças se manifesta de forma observável por volta dos três ou quatro anos”.
As inibições sexuais: “Durante esse período de latência total ou parcial são formados os poderes psíquicos que depois se colocarão como entraves no caminho da pulsão sexual e, ao modo de represas, estreitarão seu curso (o nojo, o sentimento de vergonha, os ideais estéticos e morais).” Essas represas são orgânicas, hereditárias, e reforçadas pela educação.
Formação reativa e sublimação: Elas (represas) são fundamentais para a cultura e a normalidade das pessoas. Sua construção se da ao custo das pulsões sexuais infantis, que não cessaram no período da latência, e foram desviadas para outros fins não-sexuais. Esse desvio, que tem início durante a latência, merece o nome de sublimação. As pulsões sexuais desses anos de infância, inúteis e perversas, só poderiam produzir desprazer. “Despertam, por isso, forças psíquicas contrárias (formação reativa), que, para a supressão eficaz desse desprazer, edificam as represas psíquicas mencionadas: nojo, vergonha e moral”.
Interrupções do período da latência: Um período de latência absoluta, com a sublimação completa e perfeita da pulsão sexual é uma ficção teórica. É normal que manifestações sexuais irrompam ocasionalmente, ou até mesmo alguma forma de atividade sexual persista durante a infância até a adolescência. A fraqueza da sublimação pode tornar uma criança ineducável. Educação não é sinônimo de desenvolvimento.
2.2 – As manifestações da sexualidade infantil
O ato de chupar: Esse ato, que aparece no lactente e pode se conservar pela vida toda, é uma manifestação sexual equivalente a pulsão de pegar, de agarrar. Ele pode vir acompanhado de movimentos de fricção, gemidos e levar ao adormecer. Algumas crianças passam da sucção à masturbação.
Autoerotismo: Atividade sexual através da qual a pulsão se satisfaz no próprio corpo. A criança que chupa o próprio dedo, por exemplo, está buscando um prazer já vivido e agora lembrado. “...os lábios da criança se comportaram como uma zona erógena, e o estímulo gerado pelo afluxo de leite quente foi provavelmente a causa da sensação de prazer. (...) A atividade sexual se apoia primeiro numa das funções que servem à conservação da vida, e somente depois se torna independente dela”.
2.3 A meta sexual da sexualidade infantil
Características das zonas erógenas: “é uma parte da pele ou mucosa em que estímulos de determinada espécie provocam uma sensação de prazer de certa qualidade.” Não podemos afirmar com segurança quais são os atributos desse estímulo. Qualquer parte do corpo é potencialmente uma zona erógena. “A sensação de prazer depende mais da qualidade do estímulo que da natureza da parte do corpo”. Por conveniência e repetição, uma parte do corpo se torna preferida e mantida por hábito. As zonas erógenas possuem uma capacidade de deslocamento semelhante àquele dos sintomas histéricos (neurose que apresenta uma forte repressão das zonas genitais que conferem sua excitabilidade às outras zonas erógenas).
A meta sexual infantil: a satisfação da pulsão. Para isso, é preciso um estímulo apropriado em uma zona erógena apropriada. Toda satisfação demanda repetição. De início surge uma tensão desprazerosa acompanhada de uma “sensação de comichão ou estímulo centralmente condicionado, que é projetada na zona erógena periférica”. A meta sexual seria questão de “substituir a sensação de estímulo projetada, pelo estímulo externo que anula a sensação de estímulo, ao gerar a sensação de satisfação. (...) para ser anulado, um estímulo parece requerer outro, produzido no mesmo local.”
2.4 As manifestações sexuais masturbatórias
A atividade sexual infantil vai sempre ser de acordo com a pulsão que vem de uma zona erógena específica.
Atividade da zona anal: Tambem se forma por apoio em uma função corporal. Torna-se particularmente interessante para o sujeito em decorrência dos estímulos evocados por distúrbios intestinais.
Influência na expressão sintomática da neurose. Crianças excitabilidade reter massa fecal contrações. Dor e volúpia. Indicio de neurose o bebe que se recusa a fazer coco quando é colocado no vaso (quando os pais desejam que faça coco). Ele cuida para não lhe escapar o prazer secundário de defecar. O cocô estimula a mucosa sensível, parte do próprio corpo, um presente. Liberação ou retenção é expressão de docilidade ou desobediência ante pessoas. Depois de presente, é o bebê (teorias sexuais infantis, o nascimento). A retenção constipação sinais de caráter conserva, acumula, guarda retém. Todo neurótico tem práticas escatológicas.
Obter prazer com atividade anal e seus produtos é uma das primeiras proibições imposta à criança. Ela passa a entender que o mundo não recebe amigavelmente todo e qualquer comportamento. Neste sentido, entra em ação o recalque. Não por acaso existe culturalmente uma certa equivalência entre a zona anal e seus derivados com tudo que é rejeitado.
Atividade das zonas genitais: Longe de desempenhar o papel principal na infância, esta zona erógena está relacionada com a micção e são o começo da futura vida sexual normal. Todo toque, fricção, atrito e movimentos podem produzir excitações na criança. O fato do menino usar as mãos para isso indica sua tendência ao apoderamento quando adulto. Existem três fases na masturbação infantil: período de amamentação, período de florescimento (em torno dos quatro anos de idade), e o período da masturbação da puberdade.
A segunda fase da masturbação infantil: Geralmente após o período de amamentação e antes dos 4 anos a pulsão genital parece despertar para logo em seguida ser suprimida. Este curto período deixa profundos traços no inconsciente e determinam o desenvolvimento do caráter dos adultos sadios e a sintomatologia dos adultos neuróticos. Neste caso, este período sexual foi esquecido (recalcado), e as lembranças são encobridoras. “Graças à indagação psicanalítica, consegue-se tornar consciente o que foi esquecido, eliminando assim uma compulsão que vem do material psíquico inconsciente.” O primeiro desvio no desenvolvimento acontece quando o onanismo do bebê prossegue ininterruptamente até a puberdade.
Retorno da masturbação do lactente: Esse primeiro ressurgimento da excitação sexual (depois da amamentação e antes dos quatro anos) aparece como um estímulo à coceira que convida ao onanismo, ou como processo da natureza da polução que atinge a satisfação sem a ajuda de nenhuma ação. Os sintomas dessa sexualidade se manifestam através do aparelho urinário, como a enurese noturna. As práticas masturbatórias dessa fase são formas repetitivas de buscar uma satisfação genital que lhe foi apresentada de forma prematura por outra pessoa que lhe seduziu, ou seja, lhe colocou na posição de objeto para sua própria satisfação sexual, lhe apresentou um objeto sexual do qual sua pulsão não mostrou, de início, ter necessidade. Apenas esse fator externo (sedução) não é suficiente para explicar o surgimento da neurose no adulto, afinal, pessoas que passaram por experiencias de sedução podem não desenvolver neurose.
Predisposição polimorficamente perversa: sedução > polimorficamente perversa > barragens não foram erguidas (nojo, vergonha e moral). É predisposição. Basta sedução.
Pulsões parciais: quais as condições iniciais da pulsão sexual? As zonas erógenas predominantes durante a sexualidade infantil levam em consideração outras pessoas como objetos. Este é o caso do exibicionismo, do voyerismo e da crueldade, por exemplo. A própria nudez da criança pequena não lhe causa embaraço. A nudez alheia, a partir de certa idade, começa a lhe despertar a curiosidade. A perversão do adulto de mostrar-se/olhar pode ter como causa a sedução ocorrida na infância. A criança pequena que demonstra um excesso de interesse pelos próprios genitais também vai, futuramente, demonstrar-se muito interessada pelos genitais dos outros, amigos e colegas de brincadeiras. As melhores oportunidades para satisfazer essa pulsão é durante a satisfação dessas necessidades fisiológicas (micção e defecação). “Sobrevindo o recalque dessas inclinações, a curiosidade de ver genitais alheios (ou de mostrar o próprio) persiste como ímpeto atormentador, que depois, em vários casos de neurose, propicia a mais forte força motriz para a formação de sintomas”.
Sobre a crueldade, ela tem relação estreita com o caráter infantil. Trata-se de uma forma de expressão da pulsão de apoderamento. Ela tende a ser detida pela capacidade de compaixão que se formará mais tarde. Essa pulsão domina durante a fase pré-genital. A crueldade indica que a pessoa teve uma atividade sexual intensa e precoce. “A ausência da barreira da compaixão acarreta o perigo de que essa união das pulsões cruéis e erógenas, ocorridas na infância, venha a se mostrar indissolúvel mais tarde”. As palmadas / chineladas na bunda dada pelos educadores é conhecida como uma “raíz erógena da pulsão passiva da crueldade (masoquismo)”. Toda punição física produz o empuxo da libido para vias colaterais. [em nota Freud aponta a capacidade da criança entender símbolos sexuais e que, entre 3 e 5 anos de idade, a criança é capaz de fazer uma escolha de objeto bastante nítida e acompanhada de fortes afetos.
2.5 A pesquisa sexual infantil.
A pulsão de saber: O primeiro florescimento da vida sexual infantil acontece em torno dos 4 anos de idade. Junto com esse florescimento também surge a pulsão de saber, de pesquisar, que é uma forma sublimada da pulsão de apoderamento e trabalha com a mesma energia do prazer de olhar. O que veio primeiro: a pulsão de saber ou as curiosidades sexuais?
O enigma da esfinge: O medo de perder o amor dos pais e/ou o medo de perder o lugar para outra criança acendem o trabalho de reflexão e pesquisa da criança. De onde vem as crianças? Porque existem homens e mulheres? O que os diferencia? De início, a criança (menino) supõe que todos possuem os mesmos genitais (igual os seus, ou seja, um pênis). Essa ficção é a primeira das teorias sexuais infantis.
Complexo de castração e inveja do pênis: O criança acredita nisso (todos tem genitais iguais o seu) cegamente. Os adultos perversos ainda não elaboraram esse fato. A menina acredita que um dia teve, mas que foi perdido com a castração. Quando a menina reconhece que não tem um pênis, ela sente muita inveja, e passa a desejar ser um garoto.
Teoria do nascimento: De onde vêm os bebês? Pelo anus? Do peito? Do umbigo? Essa investigação acaba sendo recalcada. Apenas seus resultados podem ser identificados.
Concepção sádica do intercurso sexual: O sexo pode ser visto, pelas crianças, como uma forma de maus-tratos, de sujeição, algo sádico. Assim, ele contribui para um deslocamento sádico da meta sexual (perversão). O casamento também é um mistério. Elas pensam que pode ter alguma relação com as funções mictórias e excretórias.
Típico malogro da pesquisa sexual infantil: As crianças entendem mais do que os adultos imaginam. Elas percebem as mudanças da gravidez. Elas não conseguem encontrar uma resposta porque não sabem da existência do sêmen e do orifício vaginal. Assim elas acabam renunciando a sua pesquisa. É um trabalho solitário que vai ser reflexo da sua orientação independente no mundo. Elas passam a se sentir distantes das pessoas.
2.6 – Fases de desenvolvimento da organização sexual
Sexualidade infantil é autoerótica.
Pulsões parciais buscam prazer de forma independente
No adulto, a obtenção de prazer está à serviço da função reprodutiva, e as pulsões parciais estão sob o primado de uma única zona erógena.
Estudo das inibições e perturbações do desenvolvimento. Conhecer os esboços e estágios preliminares das organizações das pulsões.
1. Oral (ou canibal) – A atividade sexual ainda não se encontra separada da ingestão de alimentos. O objeto é colocar na boca, a meta é incorporar (modelo para a identificação)
2. Sádico-anal – Está desenvolvido o antagonismo que permeia a vida sexual: ativo e passivo. A fonte é a mucosa intestinal, a meta é o apoderamento. Para cada polo (ativo X passivo), um objeto específico.
3. Ambivalência – predomina o sadismo e o papel de cloaca da zona anal.
Já na infância acontece a escolha de um objeto. A reunião das pulsões sob o primado dos genitais ou não são obtidas ou o são de forma imperfeita. A escolha de objeto acontece em dois tempos (ondas): A primeira tem início entre dois e cinco anos. Então acontece a latência. A segunda onda vêm com a liberdade e determina a configuração definitiva da vida sexual. “Os resultados da escolha infantil de objeto se prolongam até uma época tardia; são conservados como tais ou são reavivados na época da puberdade”. Recalque entre duas fases. Surge a corrente terna da vida sexual. Por detrás da admiração, estima, admiração (corrente terna) se ocultam velhas pulsões parciais infantis. “a escolha objetal da puberdade precisa renunciar os objetos infantis e começar de novo como corrente sensual”
2.7 – Fontes da sexualidade infantil.
A excitação sexual surge imitando uma satisfação experimentada com outros processos orgânicos e pela adequada estimulação periférica de zonas erógenas. Ela é expressão de pulsões, como a de olhar e de crueldade.
A pele como zona erógena mostram um maior grau de excitabilidade. Depende do tipo de estimulação. Temperatura?
Excitações produzidas por movimentos. Sensação de prazer. Desde bebe, desde feto, até brincadeiras de balanço e parque de diversões. Adultos que querem ser motoristas. Sobrevindo o recalque, essas preferencias são transformadas no seu contrário. Ficam com náusea, exaustas, vertigens e medo de viajar. “a combinação de terror e sacudidas mecânicas produz grave neurose traumática histeriforme.” Grau elevado = perturbação da química sexual.
Atividade muscular também dá prazer. Mas será prazer sexual? Freud nos lembra do prazer de brigar e lutar com companheiros. Envolve contato físico. Deixa inclinação para disputas verbais em anos posteriores. “Uma das raízes da pulsão sádica esta na promoção da excitação sexual através da atividade muscular”.
Processos afetivos: pavor, medo de uma prova da escola, tensão de um desafio, angustias... as pessoas parecem buscar oportunidade para sensações desse tipo. São sensações significativas para a erupção da excitação sexual. Até sensações dolorosas possuem poder erógeno. Pulsão sadomasoquista.
Trabalho intelectual, concentrar a atenção, esforço do espirito... acarreta excitação sexual.
Características gerais das fontes da pulsão sexual: excitação das superfícies sensíveis (pele e órgãos dos sentidos), em áreas erógenas. Nessas fontes age um estímulo de qualidade específica, com uma intensidade específica. A sexualidade surge como efeito colateral em uma gama de processos interiores (pulsões parciais derivam de fontes internas). Tudo que acontece com o corpo se presta a ser fonte de excitação sexual.
Diversas constituições sexuais. Fontes indiretas de excitação sexual. Todos temos erotismo anal, oral, uretal, etc. Complexos psíquicos correspondentes. A anormalidade reside na força de cada componente da pulsão e na utilização que delas é feita.
Toda ligação de outras funções com a sexualidade também são transitáveis no sentido contrário. Disturbios alimentares. Recalque perturba funções fisiológicas. Neuroses = distúrbios sexuais. Afetam outras funções do corpo, associadas. As mesmas vias pelas quais os distúrbios sexuais transbordam para as demais funções do corpo serviriam para otura realização importante na saúde normal. Sublimação.
3 – AS TRANSFORMAÇÕES DA PUBERDADE
Com a chegada da puberdade, a vida sexual infantil chega à sua configuração definitiva. As diferentes pulsões e zonas erógenas infantis subordinam-se ao primado genital. A convergência das correntes ternas e sensuais dirigidas ao objeto e à meta sexual garante a normalidade do sujeito. É como a perfuração de um túnel a partir de dois lados. A meta do homem é descarregar o sêmen. A pulsão encontra-se à serviço da função reprodutiva (é altruísta). Não havendo esse reordenamento de pulsões, objeto e meta, surgem distúrbios patológicos da vida sexual (inibições).
3.1 - O primado das zonas genitais e o prazer preliminar
Está claro o ponto de partida e o ponto de chegada do desenvolvimento. Resta esclarecer as passagens intermediárias. Na puberdade acontece o crescimento dos genitais bem como sua aptidão para gerar um novo ser. O aparelho é posto em movimento (excitação sexual) através de estímulos do mundo exterior (zonas erógenas), do interior orgânico, e da vida psíquica (um depósito de impressões externas e um centro de acolhimento de excitações internas). Essa excitação sexual é uma tensão psíquica e uma preparação física para o ato sexual.
Tensão sexual: É uma tensão desprazerosa que carrega consigo o impulso para a mudança da situação psíquica. Mas como ela é sentida como prazerosa? As zonas erógenas tem um papel importante na introdução da excitação sexual. Olhamos a beleza do objeto, sentimos um encanto excitante. O prazer de tocar esse objeto é simultâneo às excitações preparatórias (desprazerosas). O prazer sentido pelo toque suscita a necessidade de mais prazer.
Mecanismo do prazer preliminar: A estimulação das zonas erógenas produz prazer. Esse prazer demanda mais prazer, aumentando a tensão que só se satisfaz mediante o ato sexual. Para a zona genital masculina, a zona genital feminina se apresenta como objeto adequado, e vice-versa. Freud propõe denominarmos de prazer de descarga o prazer final, e prazer preliminar (prazer da excitação de zonas erógenas). Este é equivalente ao prazer infantil. “Elas (zonas erógenas) são usadas para tornar possível, graças ao prazer preliminar que delas (como na vida infantil) pode ser obtido, a produção do maior prazer da satisfação” (prazer final).
Perigos do prazer preliminar: Muitas perversões (permanência nos atos preparatórios do ato sexual) surgem quando o prazer preliminar se torna muito grande em relação ao prazer final. A ação preparatória toma o lugar da meta sexual normal. Isso acontece quando as zonas erógenas parciais correspondente tenham, na infância, contribuído em grau incomum para o ganho de prazer. Fixação e compulsão. Oposição à inclusão desse prazer preliminar em um novo contexto. Evitar a perversão quando o primado genital é igualmente traçado já na segunda metade da infância (dos oito anos à puberdade). Nessa época as zonas genitais já se tornaram sede de excitações quando é sentido satisfação em outras zonas erógenas. Por isso é algo excitante e satisfatório ao mesmo tempo.
3.2 – O problema da excitação sexual
De onde vem a tensão sexual? Qual a sua relação com o prazer?
Papel das substâncias sexuais: relacionada com a tensão. Pessoas abstinentes ejaculam dormindo. A alucinação substitui o ato. Tensao pode ser acumulação de sêmen nos reservatórios. Depois de ejacular, torna-se insensível aos estímulos. Perde a excitabilidade. Como explicar a excitação de crianças, mulheres e homens castrados? Não são casos de acumulação.
A importância dos órgãos sexuais internos: a excitação sexual pode ser independente da produção de substâncias.
Teoria química: O armazenamento de substâncias não tem relação com o tesão. A excitação sexual tem um fundamento químico.
“É lícito acreditarmos que na parte intersticial das gônadas sejam produzidas substancias químicas que, recebidas na corrente sanguínea, fazem com que certas partes do sistema nervoso central sejam carregadas de tensão sexual.” (pg. 133)
“As neuroses exibem grande semelhança clínica com os fenômenos de intoxicação e abstinência que vem do consumo de substancias toxicas geradoras de prazer”. (pg. 134)
3.3 – A teoria da libido
A química ajuda a entender o psíquico. A libido é uma força diferente daquela empregada em outros processos psíquicos. Ela é usada nos processos sexuais. Sua química é diferente. Ela não provém só dos genitais, mas de todos os órgãos do corpo.
“...formamos a concepção de um quantum de libido, cuja representação psíquica chamamos de libido do eu (ou libido narcísica), cuja produção, aumento ou diminuição e deslocamento deve nos oferecer possibilidades de explicar os fenômenos psicossexuais observados”. Trata-se de um grande reservatório do qual são enviados e para o qual retornam os investimentos objetais. Ele é formado na primeira infância.
A libido do eu investe (concentra-se, investe) objetos sexuais e se torna libido objetal. Ela pode ser retirada do objeto e reconduzida ao Eu, pode ser deslocada para outro objeto ou pode ficar suspensa. Ela é flexível. Sua extinção é sempre parcial e temporária. Exemplo: neuroses de transferência (histeria e neurose obsessiva).
Neurose e psicose são formas de manejo da libido. A psicanálise só nos informa sobre as mudanças que ocorrem na libido objetal.
3.4 – Diferenciação de homem e mulher
A predisposição masculina ou feminina é facilmente reconhecível na infância, mas só se torna definitiva após as transformações da puberdade. No caso da menina as inibições sexuais (vergonha, nojo e compaixão) surgem mais cedo, maior tendência ao recalque e pulsões parciais preferencialmente na forma passiva. “...a libido é, por necessidade e por regram de natureza masculina...”
Masculino X feminino – ativo X passivo – espermatozoide X óvulo – homem X mulher – glande X clitóris.
Zonas diretrizes no homem e na mulher: A transformação da menina em mulher acontece com a transferência da excitabilidade erógena do clitóris para a vagina. Isso acontece após a puberdade, que é acompanhada de uma nova onda de recalque que leva consigo não só a prática de masturbação clitoridiana mas também os traços de masculinidade infantil que havia na garota. Segundo Freud, a função do clitóris para o sexo é somente de levar a excitação adiante, para outra zona vazia. Até que essa habilidade seja desenvolvida, a mulher pode ficar anestésica. Quando há uma intensa masturbação clitoridiana na infância, essa zona erógena pode se recusar, futuramente, a ceder lugar para o prazer vaginal.
3.5 – A descoberta do objeto
Na puberdade acontece a descoberta do objeto. A primeiríssima satisfação sexual está vinculada com a ingestão de alimento. O objeto é externo (seio). Ele é perdido quando a criança se dá conta de que nunca o teve (ele sempre pertenceu ao corpo da mãe). A pulsão sexual se torna autoerótica até a superação do período de latência. Mamar no seio da mãe é o modelo de toda relação amorosa. “A descoberta do objeto é, na verdade, uma redescoberta”.
O objeto sexual da época do aleitamento: O amor sexual da criança é despertado pelos cuidados, caricias, beijos e embalos que o adulto lhe proporciona.
“É verdade que um excesso de carinho será prejudicial por acelerar o amadurecimento sexual e também por ‘mimar’ a criança, tornando-a incapaz de, na vida futura, renunciar temporariamente ao amor ou satisfazer-se com uma medida menor dele. Um dos melhores indícios de futuro nervosismo ocorre quando a criança é insaciável em exigir carinho dos pais, e, por outro lado, justamente os pais neuropáticos, que se inclinam muitas vezes ao carinho desmesurado, são os primeiros a despertar no filho, com suas carícias, a predisposição à doença neurótica. Vê-se, por esse exemplo, que pais neuróticos podem transferir seu distúrbio para os filhos por caminhos mais diretos que o da hereditariedade.” (pg. 145)
O medo infantil: apego infantil às pessoas que cuidam dela. Sentem muita falta. Temem desconhecidos, a escuridão, o bicho-papão, etc. O medo excessivo na criança é indício de ansiedade no adulto. Só se tornam ansiosos aquelas pessoas que, quando crianças, tinham uma pulsão sexual muito forte ou prematura. Mimo excessivo deixa a criança muito exigente. A libido não satisfeita é transformada em angústia, como o vinho vira vinagre. Neurose é libido insatisfeita. Ansiedade vira medo. Amor trazer segurança.
A barreira contra o incesto: Pais carinhosos, que cuidam para que as pulsões do filho não sejam despertadas prematuramente, guiam a criança na escolha do seu objeto sexual futuro. Barreiras levantadas antes da puberdade impedem que a criança escolha seus pais como objetos sexuais. São prescrições morais. Fundamento da sociedade. O ambiente força a pessoa a sair de casa, sair da família, frouxar esses laços e construir outros, mais amplos.
Em casos patológicos observamos pacientes lutando contra a tentação do incesto. As fantasias da puberdade estão estreitamente ligadas à pesquisa sexual infantil. Elas estão no fundamento dos sintomas neuróticos. Mostram o estágio preliminar, as formas e os componentes libidinais recalcados que tentam obter satisfação. Fantasias sexuais da puberdade incluem espreitar o ato sexual dos pais, ter sido seduzido por alguém, a ameaça de castração, fantasias com o útero materno e um romance familiar. Existem paralelos entre fantasias sexuais infantis e mitologia.
As fantasias são manifestação de impulsos que se manifestam nas inclinações infantis. Acontece de forma simultânea o repúdio dessas fantasias e o desprendimento da autoridade dos pais (oposição). É comum garotas persistirem no amor infantil, de forma que se tornam mulheres frígidas no casamento. A escolha incestuosa de objetos mais transtornos no desenvolvimento psicossexual. A sexualidade recalcada dos psiconeuróticos continua ativa no seu inconsciente. Lá ela encontra objetos e se satisfaz de forma disfarçada. Este é o caso de garotas com excessiva necessidade de ternura e horror frente as exigências da vida. Elas idealizam um amor assexual e tentam esconder a sua libido atras de muita ternura e apego infantil pelos pais e irmãos. Elas são, em outras palavras, apaixonadas por esses parentes. Seu amor aparentemente não sexual (infantil) e o amor sexual se alimentam da mesma fonte. A libido ficou fixada.
Efeito posterior da escolha objetal infantil: A fixação incestuosa infantil sempre deixa marcas. É comum que a primeira paixão de alguém seja uma pessoa mais velha e do sexo oposto, e que seus principais inimigos de infância sejam do mesmo sexo (complexo de édipo). Trata-se de uma paixão apoiada no modelo dos genitores (transferência). Até o ciúme dos adultos tem uma raiz infantil. “Desavenças entre os pais, seu casamento infeliz, determinam séria predisposição a um desenvolvimento sexual perturbado ou adoecimento neurótico nos filhos.” A inclinação infantil pelos pais aponta o caminho para a escolha do objeto.
Prevenção da inversão: Atua, em primeiro lugar, a inibição impositiva da sociedade. No caso do menino, a normalidade é favorecida pelos carinhos da mãe, a intimidação sexual por parte do pai e a relação competitiva com ele. No caso da menina, a tutela da mãe resulta em uma atitude hostil para com o próprio sexo. “Em alguns histéricos, nota-se que a ausência prematura de um dos genitores (por morte, separação, afastamento), devido à qual aquele remanescente atrai todo o amor da criança, determina a precondição para o sexo da pessoa futuramente escolhida como objeto sexual e, com isso, torna possível a inversão duradoura.
RESUMO
Uma aberração sexual se caracteriza pela meta e pelo objeto da pulsão. Quanto à causa, será inata ou adquirida? É preciso compreender a neurose. Ela é o negativo da perversão. Neste caso as pulsões produzem sintomas, naquele, desvios comportamentais. As perversões revelam a crueza da pulsão sexual do ser humano. A excitação sexual é produto secundário de qualquer processo orgânico (inclusive emoções dolorosas). Ela fica vinculada a uma zona erógena, e a criança consegue satisfação autoerótica (não precisa de um objeto). A normalidade depende de alterações orgânicas e inibições psíquicas ao longo da maturação. Ela é uma conquista, produto de uma certa cooperação entre predisposição original e as influências da vida. Forças que restringem a pulsão: pudor, nojo, compaixão, moral e autoridade. É como o preenchimento de canais secundários quando há desvio do leito principal da corrente, devido ao recalque.” A pulsão sexual já existe na infância. A sua configuração nesta fase é crucial para a determinação da vida sexual futura, do adulto. A educação ajuda na construção de forças que mantém as pulsões perversas dentro de determinados canais de descarga. Algumas pulsões conseguem seguir seu curso e se manifestar como atividade sexual. “Após um breve período de florescimento entre os dois e os cinco anos de idade, ela entraria no chamado período de latência” durante o qual a energia sexual é desviada para outros fins. Desenvolvimento da sociabilidade. Recalque e formação reativa surgem como barreiras.
A pulsão sexual normal do adulto tem apenas uma meta, determinada pela composição, ou síntese, de pulsões parciais da vida infantil. Nas perversões acontece uma desintegração desses elementos, de forma que cada um busca satisfazer a sua meta de forma independente.
Pulsão sexual na infância é não-centralizado e sem objeto (autoerótico)
Os genitais na infância se fazem notar especialmente com a satisfação vinda de outras fontes. Estímulos produzem excitação e satisfação.
Vida sexual infantil é esboço de uma organização futura.
Fase 1 – erotismo oral
Fase 2 – sadismo e erotismo anal
Fase 3 – participação das zonas genitais
“esse primeiro florescimento da vida sexual infantil (2 – 5 anos) também produz uma escolha de objeto... precursora da organização sexual definitiva”.
Desenvolvimento sexual em dois tempos divididos pela latência. Condição para cultura. Inclinação para neurose.
Manifestações sexuais masturbatórias. Influencia da sedução pode provocar interrupção prematura da latência. Compromete a educabilidade das crianças.
Com a puberdade:
· subordinação de todas as fontes de excitação sexual ao primado das zonas genitais. Atos sexuais antes autônomos tornam-se preparatórios para a nova meta sexual. A mulher precisa fazer um segundo recalque que anula uma parcela da sua masculinidade e muda prepara a mudança da zona genital diretriz.
· Processo de encontrar um objeto: a escolha é dirigida pela inclinação sexual insinuada na infância e reavivada na puberdade. Pais e cuidadores. Barreira contra o incesto obrigou a deslocar. Um forte impulso amoroso faz a unidade requerida para o amor.
Existem fatores que perturbam o desenvolvimento. Pode haver fixação, dissociação da pulsão sexual.
1. Constituição e hereditariedade: existe várias constituições sexuais inatas. “Em mais da metade dos casos graves de histeria, neurose obsessiva, etc. que tratei com psicoterapia (...) o pai do paciente tivera sífilis antes do casamento”. Familias com membros perversos positivos (ativos) e perversos negativos (excesso de represao e histeria) .
2. Elaboração ulterior: A sexualidade vai ser determinada conforme os destinos que experimentem os afluxos de sexualidade oriundos das várias fontes.
a. A predisposição pode se manter. Na fixação, por exemplo, pode haver uma fraqueza inata da pulsão sexual, ou seja, a zona genital não faz a síntese das pulsões parciais. Elas seguem divergidas em seus objetos suas metas.
b. Recalque: obstrução psíquica de excitações fortes que são impedidas de alcançar a sua meta e empurradas para outras vias (sintomas / neuroses). “a vida sexual dessas pessoas (neuróticos) começa como a dos perversos, toda uma parcela de sua infância é preenchida de atividade sexual perversa, que eventualmente se prolonga até a maturidade. Então ocorre, por causas internas, uma reviravolta devida ao recalque, e a partir daí, sem que os velhos impulsos se extingam, a neurose toma o lugar da perversão”.
c. Sublimação: Excitações muito fortes saem em outros âmbitos. Ex. atv. Artística. O recalque por formação reativa. O caráter é construído com o material de excitações sexuais, e se compõe de pulsões fixadas desde a infância, de “construções adquiridas através da sublimação e daquelas destinadas a refrear eficazmente impulsos perversos.” Ex. obstinação, parcimônia e gosto pela ordem vinculado ao erotismo anal. Ambição vinculado ao erotismo uretral.
d. Vivências acidentais: Se sublimação e recalque são manifestações constitucionais, tudo é inato. Prédisposição e ambiente cooperam entre si. Se complementam. A terapia incide apenas sobre as vivencias acidentais. Especialmente as vivências da primeira infância.
i. Série complementar disposicional = ação conjunta de predisposição e vivências infantis.
ii. Série complementar definitiva = ação conjunta de predisposição e vivências traumáticas posteriores. Todos os fatores prejudiciais produzem uma regressão, um retorno a uma fase anterior do desenvolvimento.
e. A precocidade sexual espontânea: presente nas neuroses. Refere-se a interrupção, encurtamento ou eliminação do período infantil da latência. Como não desenvolveu inibições nem o primado genital, o comportamento é de perversão. Depois, quando surge o recalque, o que era perversão torna-se neurose. A precocidade da manifestação sexual dificulta o domínio da pulsão pelas instancias superiores e aumenta o caráter compulsivo dos representantes psíquicos da pulsão sexual. A precocidade surge paralela ao desenvolvimento intelectual prematuro.
f. Fatores temporais: ordem que as pulsões são ativadas filogeneticamente estabelecida. Seu tempo de duração. Sequencia e duração das pulsões ativas. Pulsões muito súbitas e intensas costumam ter uma duração breve. Tendencias mais fortes na infância não justificam o temor de que venham a dominar o caráter do adulto. Tendem a desaparecer e dar lugar ao seu oposto.
g. Tenacidade das primeiras impressões: impressões da vida sexual infantil tendem a ficarem fixadas, impressas profundamente nos neuróticos e perversos. Elas levam a compulsões e repetições, ditam à pulsão os caminhos pela vida inteira. Evidência do peso dos traços mnemônicos na vida psíquica. Tem relação com a formação intelectual e cresce com o nível de cultura da pessoa. O selvagem é o infeliz filho do instante. O modo como ocorreu a sexualidade infantil tem pouca importância para a vida futura de quem faz parte da camada cultural inferior, mas muita importância na camada cultural superior.
h. Fixação: sexualidade infantil experimentada acidentalmente (sedução) fornecem o material para fatores psíquicos fixarem um distúrbio duradouro. Desvios da vida sexual são estabelecidos por impressões na primeira infância quando a constituição é complacente e a tenacidade alta.