Aspectos fundamentais da comunicação (parte 1)

A importância da comunicação para a nossa espécie é evidente. Desde a organização social mais primitiva até a era digital, ela promove acordos, efetua trocas, compartilha sentimentos e produz mudanças nos relacionamentos. Por acreditar na importância deste assunto para o tratamento de casais e famílias, escolhi compartilhar alguns princípios fundamentais que podem contribuir para a saúde dos relacionamentos.

1 - A impossibilidade de não comunicar.

“Todo comportamento é comunicação, e como não existe um não-comportamento, é impossível não comunicar.”

Quando, por algum motivo, alguém quer evitar a comunicação, percebe-se o afastamento, o silêncio, falas incoerentes e contraditórias, a mudanças bruscas de assunto, sentenças incompletas, obscuridade, tagarelice e erros de interpretação. De forma menos sutil, pode até mesmo haver a simulação de sintomas como a surdez, o sono, a embriaguez e o desconhecimento de algum idioma.

2 – Existem dois níveis da comunicação: Forma e conteúdo.

Forma: seja um texto, uma imagem, um gesto ou uma fala, toda mensagem possui algumas características como o nível de formalidade, de complexidade, de firmeza ou insegurança, de velocidade e tom emocional. Essas características estão relacionadas com a concepção subjetiva do emissor a respeito de quem é o receptor da mensagem. Por exemplo: Um mesmo conteúdo é expressado de forma diferente, na nossa cultura, se estamos falando com uma criança ou com outro adulto.

Conteúdo: Independente da forma de uma mensagem, ela possui dois aspectos: relato e ordem.

• Relato: este aspecto corresponde ao conteúdo propriamente literal da mensagem, por exemplo, quando alguém diz “estou com frio”, está simplesmente expressando uma sensação: frio.

• Ordem: Este aspecto indica como essa mensagem deve ser compreendida de acordo com o contexto e o tipo de relação existente entre os interlocutores. O relato “estou com frio”, por exemplo, pode estar associado com a ordem “empreste-me seu casaco”, ou “feche a janela”.

Tendo em vista que o sentido da mensagem (como ela deveria ser compreendida pelo receptor) depende da concepção de cada interlocutor a respeito de si, do outro, da relação e do contexto no qual acontece a comunicação, este é o campo dos conflitos e mal-entendidos nos relacionamentos.

Imaginem, por exemplo, uma jovem que consentiu em caminhar com um rapaz para casa depois de uma festa. Durante o percurso, a garota diz “estou com frio”. Ao receber essa mensagem (aspecto relato), o rapaz pode interpretar (aspecto ordem), por exemplo, “chame um taxi”, “empreste-me seu casaco”, ou até “me abrace”. Assim escande-se uma sequencia de trocas verbais e não verbais que dão continuidade a uma relação que pode ser breve ou longa, conflitiva ou harmônica, satisfatória ou frustrante.

(continua...)

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