top of page
Buscar

Psicoterapias psicanalíticas: o desenvolvimento da psicanálise nos EUA


“Existem muitas maneiras de tratar as neuroses, mas apenas uma única maneira de compreendê-las”. Otto Fenichel


Inventada por Freud, em Viena, no final do século XIX, a psicanálise rapidamente expandiu-se para Zurique, Budapeste e Berlim. Em 1909, quando seu inventor apresentou conferências na sede da Universidade de Clark, ela chegou oficialmente aos Estados Unidos. Ela foi adotada pelos americanos como a psicologia de referência da psiquiatria da época. Nos anos 50, após a morte de Freud e em decorrência da migração de analistas durante a segunda guerra mundial, ela ganhou força e sofreu reformulações significativas. Eis algumas delas:



  1. Lawrence Kubie focou no aspecto científico da ajuda psicológica. Para ele, a busca pela psicoterapia científica é subsequente às tentativas convencionais de cura. Ele considerou a existência de três tipos de psicoterapias científicas: A) de apoio prático, B) de apoio emocional, e C) psicoeducativas. Além disso, Kubie também indicou o uso de métodos paliativos para ensinar o paciente a conviver com a sua neurose e seus sintomas. Ele recomendou a técnica psicanalítica estabelecida por Freud apenas nos casos que uma mudança mais profunda é possível e necessária.

  2. Com especial atenção ao funcionamento do ego do paciente em relação ao mundo externo, Bernhard Berliner caracterizou a psicoterapia breve como a prática de aconselhamento, ensino e orientação quanto à resolução de um problema central. Para que essa técnica fosse eficaz, Berliner reconheceu a necessidade do paciente apresentar um baixo nível de resistências e uma transferência positiva para com o terapeuta.

  3. Robert Knight defendeu duas formas de aplicação dos princípios psicanalíticos a outros tipos de psicoterapia: supressivas (de apoio) ou expressivas (de exploração). Ele indicou a psicoterapia supressiva para pacientes com o ego muito frágil, inflexível ou defensivo, com a finalidade de aliviar os sintomas através de técnicas como a sugestão, aconselhamento, motivação, encorajamento, a reorganização das defesas, etc. Por outro lado, ele indicou a psicoterapia expressiva (como a psicanálise freudiana) para os pacientes que buscam (ou precisam) uma mudança mais completa na sua estrutura de personalidade. Ela consiste em investigar o inconsciente para permitir a elaboração de conteúdos recalcados. Knight fez a importante observação de que independentemente do tipo de terapia aplicada, a técnica deve ajustar-se ao paciente, e não o contrário.

  4. Merton Gill: afirmou que psicanálise propriamente dita é aquela terapia que trabalha com a transferência e a resistência, podendo fazer uso de métodos expressivos ou apoiadores, de acordo com a necessidade de romper ou reforçar as defesas.

  5. Em comparação com o campo caótico das diversas psicoterapias, Leo Stone definiu a psicanálise pela sua técnica: a associação livre, atenção flutuante, alta frequência, regularidade dos encontros, uso do divã, neutralidade, abstinência e interpretação. Para ele, a psicanálise não é indicada para pacientes que obtém um alto ganho secundário com a doença, que poderiam melhorar com um tratamento breve, ou que encontram-se em uma situação de vida tão difícil que o esforço implicado em um tratamento psicanalítico não é justificado.

  6. Gitelson reconheceu uma forma diferente de aplicar o saber psicanalítico no tratamento de pacientes, a qual chamou de psiquiatria dinâmica. Para ele, enquanto a psicanálise busca uma mudança profunda através do resolução da neurose de transferência, a psiquiatria dinâmica busca atingir apenas um ponto de equilíbrio satisfatório, e, por isso, cabe ao analista ser mais ativo nas suas abordagens (intervir, opinar, contribuir, manipular, etc.)

  7. Robert Michels, por fim, problematizou o surgimento das psicoterapias derivadas da psicanálise ao compará-las com os métodos primordiais de Freud. Tendo em vista que a forma final do método psicanalítico elaborado por Freud representa aquele mais eficiente, prático e acessível elaborado pelo seu fundador, retornar às técnicas já abandonadas por ele representa um desserviço, e não um progresso para o campo dos tratamentos psicanalíticos.


Referência:

Wallerstein, Robert S. "A cura pela fala: as psicanálises e as psicoterapias". Porto Alegre: ArtMed, 1998.

 
 
 

Comments


Copyright (©) - Todos os direitos reservados (2021)

bottom of page