A gravidez e sua relação com a personalidade do bebê
- Filipe M. de Camargo
- 1 de mar. de 2017
- 2 min de leitura
Atualizado: 23 de ago. de 2021

Em decorrência do crescimento histórico da preocupação social com a saúde e o desenvolvimento das crianças, pesquisadores de todo o mundo buscam respostas que possam ajudar na orientação de pais e professores, e na construção de políticas públicas que possam contribuir para uma sociedade melhor. Considerando que a saúde e a personalidade das crianças depende tanto de fatores genéticos (geralmente determinados pelo acaso) quanto ambientais (controláveis), farei algumas considerações, do ponto de vista da psicologia, sobre o processo de desenvolvimento emocional e da personalidade do bebê pré-natal.
Sabe-se que nas trocas químicas com a mãe o feto recebe não apenas o suprimento material de que necessita, mas também afetivo. Neste sentido, através do cuidado físico e emocional de si mesma as gestantes vão certamente estar cuidando do seu bebê. O estado emocional da mãe libera certa substâncias químicas na sua corrente sanguínea, que modificam a bioquímica do ambiente intra-uterino. Vivências emocionais intensas durante a gestação deixam marcas no desenvolvimento do feto, as quais podem auxiliar na compreensão da personalidade e de psicopatologias futuras. Nos casos de sofrimento materno agudo, como quando há uma vivência traumática, o feto agita-se, tentando livrar-se do mal-estar; e, quando crônico, o feto pode se tornar excessivamente silencioso, depressivo, com baixa energia vital. Dessa forma, desde o período gestacional as vivências emocionais da mãe já vão determinando o perfil emocional e a personalidade do seu filho.
Certa vez entrei em contato com o caso de um bebê recém-nascido que não conseguia relaxar. Sua tensão muscular refletia numa expressão de preocupação e ansiedade. Os psicólogos responsáveis pelo caso constataram que os sintomas do bebê foram determinados pelo estado emocional da mãe durante a gravidez. Ela revelou que detestava seu trabalho na roleta do ônibus, como cobradora; e que só de ouvir o barulho da roleta ela já fica nervosa. De certa forma, o bebê captou o estado emocional da mãe e assumiu essa disposição tensa e preocupada como uma condição natural de ser-no-mundo. Outro estudo, feito com gestantes que se sentiram emocionalmente abaladas pelo atentado às Torres Gêmeas, mostrou que as crianças nascidas apresentaram um nível de cortisona (hormônio ligado ao estresse) acima da média.
Dessa forma, o feto pode ser considerado como um ser em interação com o meio, capaz de responder e se adaptar às mudanças, em processo de construção de linhas gerais de seu caráter e propensões psicopatológicas.
Sendo assim, a mãe gestante, por ser o meio no qual o bebê vai se desenvolver, estará cuidando do seu bebê através do cuidado de si mesma, e do seu próprio estado emocional. Neste sentido, é muito importante a contribuição das pessoas com as quais a gestante convive. A saúde das futuras gerações depende muito mais de tais cuidados profiláticos do que de boas formas de tratamento no futuro.
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